EM PARATY - RJ, NOITE DE AUTÓGRAFOS
quinta-feira, 30 de junho de 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
NA PELE DOS DEDOS
Do impecável uniforme quase não se via o gingado da saia. Com retidão no caminhar, braços prendendo firme ao peito os livros e cadernos, cruzava os corredores do colégio e as alas do internato. Cedo chegava na capela para as orações. Acendia as velas e distribuía pelos bancos os livros de cânticos.
Aluna do ginásio, mantinha a atenção nas aulas de matemática, latim, francês e inglês. Redobrava esforços nas aulas de artes. Não tinha habilidades para o desenho, mas o lápis virava parceiro obedecendo outras ordens de mãos ansiosas. Estas mesmas mãos que se juntavam em orações aflitas, os olhos azulados, fixos no Sagrado Coração.
Aguentava firme o jejum das últimas sextas-feiras do mês. Doze horas para a purificação, merecendo receber o corpo do Senhor, consagrado. Resistia ao terrível enjoo das velas, do incenso e das flores em águas não trocadas. O véu branco sobre a cabeça e a reverência às freiras, por de baixo de olhos tímidos, não demonstravam as aflições por perdão e redenção de pecados.
Que tanta penitência carecia aquela alma clara?, indagavam-se as religiosas. Não conseguiam ver, naquele corpo de curvas escondidas, os pecados que afligiam as suas próprias cabeças.
Mas a ginasiana, esfolando os joelhos na madeira do banco, quando juntava as mãos frente ao rosto, fechando os olhos, diante do Cristo despido, sentia ainda o aroma de suas mais íntimas secreções. Na pele dos dedos, por baixo das unhas.
na pele dos dedos de ronaldo albé lucena é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil.
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